
No primeiro
quadro, Dredd (que acaba de chegar ao local do crime) olha para frente
encarando as criaturas fugidas. Contudo, devido à posição de seu rosto, ele
pode muito bem estar encarando o leitor, numa imagem que conota sua natureza.
Se o capacete escondendo permanentemente a face do agente da justiça servia
como representação da impessoalidade da lei, neste caso se adiciona ao fato de
não sabermos para onde olha o juiz, isto é, não podemos estar seguros a
respeito da forma como ele vê o mundo e para onde se dirige seu olhar. Além
disso, Bolland desenha justamente a parte superior da cabeça de Dredd invadindo
o quadro acima, algo que, associado ao seu punho fechado em primeiro plano
(quase também saindo da revista), revelam sua onipresença e situam também os
leitores no horizonte de sua ameaça: “Algum vagal vai pagar por isso.” (p. 3)


A história acerta
em vários outros pontos, como ao fazer o garoto ser atacado por uma das feras
que ele deixou escapar. Aqui, é valiosa a afirmação de que a tal criatura, um
Yabba Dabba, seja vegetariana e tenha atacado o moleque por acaso, indício de
que nem toda vítima é o que parece ser. Dredd, numa cena cômica e absurda,
entra dentro da barriga do animal - lanterna em punho - e efetua a prisão no
interior do bicho, esperando que ele e o criminoso sejam expelidos nas fezes do
gigante herbívoro. Bolland não mostra a cena, mas está implícita a imagem de
evacuação de ambos os lados da moeda da lei. Tanto o agente da justiça, quanto
o meliante sairão pelo mesmo caminho, sujos da mesma substância podre que
qualifica tudo em Mega-city UM.
No último
quadro, Dredd, após o dever comprido, está de costas, se distanciando de nós,
caminhando para o fundo do quadro, os braços pendendo inúteis ao lado do corpo,
numa imagem oposta aquela que abre a narrativa. Ao invés da ameaça segura, de
sua boca escapa um discurso pessimista a respeito da efetividade de prender um
marginal em um mundo repleto de loucos em potencial. A história fecha um ciclo
emblemático do universo do Juiz. Figura um mundo sem saída em que a violência
se repetirá ininterruptamente, muitas vezes motivada pela ação da lei. Por
isso, a história marca com eficácia a volta de Juiz Dredd às bancas,
trabalhando com os inúmeros níveis que seu universo permite explorar.
Autor: Daniel Baz
"Tanto o agente da justiça, quanto o meliante sairão pelo mesmo caminho". =D Muy bueno (todo texto, claro).
ResponderExcluirValeu, Régis. Esta cena é impagável mesmo (o texto, nem tanto) :)
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